Nutrição

Doença celíaca e intolerância ao glúten

Doença celíaca e intolerância ao Glúten – duas faces da mesma moeda

A doença celíaca e a intolerância ao glúten têm como denominador comum a sensibilização do indivíduo ao glúten, uma proteína que existe naturalmente nas sementes de alguns cereais como o trigo, a cevada, o centeio e a aveia.

A doença celíaca é uma manifestação extrema da intolerância ao glúten, o qual provoca uma reacção de sensibilidade, ou seja uma resposta imune desajustada, em indivíduos com predisposição genética.

Esta reacção de sensibilidade consiste numa “inflamação” do intestino delgado, o qual ao ser “agredido” pelo glúten fica com a sua camada de revestimento danificada, com consequente diminuição da capacidade de digestão dos alimentos e absorção dos nutrientes.

A doença surge normalmente durante o primeiro ano de vida, podendo manifestar-se em qualquer idade. Quando aparece na primeira infância geralmente verifica-se que a criança começa a perder o apetite, deixa de aumentar de peso, torna-se indiferente, facilmente irritável, o abdómen apresenta-se volumoso e as fezes anormais, pastosas, fétidas e por vezes diarreicas.

Existem diversos exames complementares de diagnóstico para despistar a doença como análises ao sangue e fezes, mas para se ter a certeza do mesmo é indispensável fazer uma biopsia intestinal.

A base do tratamento da doença é uma alimentação isenta de glúten. Os principais sintomas clínicos geralmente diminuem na maioria dos pacientes 2 a 8 semanas após a introdução do plano alimentar sem glúten, mas em alguns casos pode demorar mais tempo.

Para além da doença celíaca é hoje admitida uma outra forma de intolerância ao glúten designada de “sensibilidade ao glúten não celíaca”, em que o paciente apresenta sintomas como desconforto abdominal, flatulência, diarreias ou obstipação, dores de cabeça, etc., mas sem alterações da mucosa intestinal.

Existem também alguns dados que sugerem que o glúten pode ser um factor de agravamento em patologias crónicas auto-imunes como o síndrome do cólon irritável, psoríase ou artrite e também em doenças do foro neurológico como a demência, depressão ou PHDA (Perturbação de Défice de Atenção e Hiperactividade). Na base destas doenças está a inflamação e o glúten, assim como o açúcar e gorduras hidrogenadas são importantes estimulantes das vias inflamatórias também no cérebro.

Doença celíaca e intolerância ao glúten

Embora algumas destas questões relativas ao glúten ainda não sejam consensuais ao nível da comunidade científica, estudos e pesquisas irão certamente clarificar melhor esta associação, a qual parece dever-se à ingestão massiva de alimentos que naturalmente o contêm, (característica da alimentação contemporânea) e ao excessivo consumo de produtos processados, nos quais o glúten é adicionado, dado que é um aditivo muito comum na industria alimentar.

Para que seja possível fazer uma alimentação isenta de glúten é necessário fazer uma leitura cuidadosa dos rótulos dos alimentos, principalmente os de confecção industrial. Segue-se uma lista de alimentos com e sem glúten:

Alimentos com glúten:

  • Todos os derivados de trigo, centeio, cevada e aveia;
  • Pão, bolos, biscoitos, doces de pastelaria, tostas e bolachas;
  • Cereais pequeno almoço contendo trigo;
  • Papas para bebés, com excepção das de milho e arroz;
  • Sopas de pacote, espessantes para molhos, mostarda, molhos, refeições pré-confeccionadas.

Alimentos isentos de glúten:

  • Peixe, carne, ovos;
  • Leite, iogurte, queijo fresco e requeijão;
  • Arroz, batata, trigo sarraceno, quinoa, leguminosas;
  • Fruta e produtos hortícolas em geral;
  • Pão de milho;
  • Pão, bolos, bolachas e biscoitos confeccionados com farinha sem glúten.

Existe um variado leque de alimentos isentos de glúten saudáveis, que podem contribuir para uma alimentação equilibrada, no entanto existem também espaços comerciais onde se pode encontrar uma variada gama de alimentos como pão, massas, bolachas, etc., sem glúten. A PESCANOVA também dispõe de alimentos isentos de glúten, os quais são uma boa opção para a população em geral e em particular para os doentes celíacos ou indivíduos com sensibilidade ao glúten.

Se sofre de doença celíaca obrigatoriamente deve fazer uma alimentação isenta de glúten sempre. Se apresenta alguma das patologias ou sintomas atrás referidos, experimente fazer durante um determinado período de tempo esse regime e veja como se sente.

Se é absolutamente saudável também não perde nada em diminuir o consumo de alimentos com glúten, afinal isso vai permitir-lhe diversificar mais as suas escolhas alimentares e diminuir a ingestão de produtos processados o que é uma mais valia em alimentação saudável… mas sem fundamentalismos!

Ana Maria Oliveira
Nutricionista

NOTA: Este texto não foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa

Doença celíaca e intolerância ao glúten